O descaramento do FHC

FHC descarado

Jeferson Miola

FHC foi um dos principais artífices intelectuais do golpe que impregnou a sociedade com ódio, incendiou o Brasil e devastou a economia e a soberania nacional.

A publicação da carta aos eleitores e eleitoras mostra que FHC escolheu o descaramento como traço definidor do seu caráter.

É de uma torpeza sem nome a afirmação, na carta, de que Haddad é uma das duas “soluções extremas” do espectro político – só há um extremismo a ser combatido e derrotado implacavelmente, que é o bolsonarismo em todas suas variantes. Atribuir igualmente ao PT a condição de pária da democracia é mais que oportunismo descabido, é desonestidade teórica.

Bolsonaro é o subproduto mais perigoso da decomposição política e institucional que FHC, cegado pela obsessão pelo poder e pelo rancor, ajudou a criar no país a partir da guerra política insana desatada com o exclusivo objetivo de interromper o ciclo de governos do PT.

Com a espiral do caos, todavia, muita coisa saiu errada, e o PSDB perdeu o lugar-tenente do antipetismo agora ocupado pelo bolsonarismo.

Se os democratas e humanistas nos vemos hoje diante da dramática responsabilidade de ter de derrotar a barbárie fascista para preservar minimamente um projeto civilizatório de nação, é porque FHC e o establishment criaram as condições que levaram o país a essa realidade aterrorizadora.

FHC, um ser narcisista que só enxerga o próprio umbigo, talvez não tenha querido ler a esclarecedora entrevista de Tasso Jereissati ao Estadão em 13/9.

Nela, Tasso admitiu que o PSDB, dirigido pelo Aécio, pupilo predileto do FHC, cometeu um “conjunto de erros memoráveis” que conduziram o país ao caos econômico, político e social.

Até agora, Tasso foi o único tucano que teve dignidade para reconhecer que o PSDB jogou o Brasil no abismo. Ele admitiu que os tucanos foram “engolidos pela tentação do poder”: contestaram o resultado eleitoral de 2014, se juntaram a Eduardo Cunha e Temer na conspiração para golpear Dilma com as “pautas-bomba” e a estratégia de terrorismo econômico que desestabilizaram o país, e participaram da quadrilha criminosa que tomou o Planalto de assalto.

O PDT, o PSOL e o PT/PCdoB – com Ciro, Boulos e Haddad – combatem sem tréguas e sem concessões o bolsonarismo e seu projeto fascista e ultra-neoliberal.

FHC, o establishment e a Globo, ao contrário, não expressam compromisso incondicional com os ideais civilizatórios ante a ameaça real da barbárie. Eles inclusive admitem apoiar Bolsonaro, se necessário para impedir a vitória do Haddad.

É absoluta a identidade deles com o programa neoliberal selvagem proposto pelo Bolsonaro. Como a democracia, para eles, tem apenas valor instrumental, não hesitarão em espezinhá-la, se preciso para preservar o condomínio da dominação oligárquica e seu regime de exceção.

2 comentários em “O descaramento do FHC

  1. Jeferson, em geral concordo com seus comentários. Hoje, não. Considero que o posicionamento do FHC é um avanço e permite ampliar as forças antifascista, que representam o grande perigo do momento. Que olha para trás vira estátua de sal. Tomara que ele continue avançando pois pode ser de grande ajuda nos momentos difíceis que vamos viver. Raymundo de Oliveira

    Curtir

Deixe um comentário