Bolsonaro é uma via aberta para a ditadura fascista

bolsonaro é uma via aberta para a ditadura

Jeferson Miola                           

Menosprezar ou folclorizar as constantes ameaças ditatoriais e os ataques do clã Bolsonaro e dos bolsonaristas ao pouco de ordem jurídica ainda vigente no Brasil é um erro histórico que poderá ter desdobramentos perigosos, de dimensões catastróficas.

Tanto a retórica como a prática inconstitucional e ilegal que evocam um regime ditatorial devem ser entendidas como de fato são: parte de um planejamento meticuloso para uma escalada autoritária de modo incremental, progressivo, até a implantação de uma ditadura no Brasil. Neste caso, uma ditadura bruta, sanguinária, fascista; dominada por facções milicianas.

O objetivo estratégico de Bolsonaro é cunhar progressivamente, pela via institucional e eleitoral, o ambiente que propicie as condições para levar às últimas consequências a barbárie ultraliberal: imprensa de fachada, instituições [Executivo, PF, MP, judiciário, Congresso] manietadas e aparelhadas; presença militar dos párias que habitavam o porão da ditadura anterior em postos-chave de direção; perseguição, caçada e aniquilamento da oposição ao regime, sobretudo a esquerda; simulacro de democracia representativa, terrorismo estatal, Estado policial etc.

Com a subversão constante da ordem jurídica de 1988, feita passo a passo, por dentro da própria constitucionalidade vigente, Bolsonaro beneficia-se das condições herdadas do golpe para seguir aprofundando o regime de exceção Globo-lavajatista que lançou o Brasil no precipício.

Em menos de 1 ano de governo, Sérgio Moro e o clã Bolsonaro afrontaram a imprensa, o Congresso e o STF. Eles também ameaçaram e atentaram contra a ordem jurídica ainda vigente com medidas que, se as instituições de fato estivessem “funcionando normalmente”, eles teriam de ser cassados dos cargos, processados e presos.

Recentemente, Moro e Bolsonaro avançaram o itinerário autoritário com propostas como a GLO [Garantia da Lei e da Ordem] para reprimir movimentos sociais, em especial do campo; e como a “licença para matar” [excludente de ilicitude], que autoriza policiais assassinarem ativistas em protestos políticos.

Mas a retórica mais direta, lapidar, que evidencia a perspectiva ditatorial que está no horizonte bolsonarista não foi feita nem por Sérgio Moro nem pelo clã sociopata, mas por Paulo Guedes.

Em Washington, capital do Império estadunidense, o destruidor da economia brasileira transmitiu ao seu deus-mercado uma mensagem tranquilizadora: “Não se assustem então se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez?”.

Guedes quis dizer: passe o que passar, custe o que custar – inclusive o desmanche total dos poucos traços de democracia ainda remanescentes no Brasil – ele garante que a devastação ultraliberal será levada até o fim, até as últimas consequências, para consumar o maior saque e roubo das riquezas e da renda do país jamais antes visto.

Guedes deve ser levado à sério; ele sabe o que fala. Ele tem como antecedente vergonhoso de vida ter servido à ditadura sanguinária de Augusto Pinochet. E ali, naquela vivência macabra, aprendeu que a imposição deste programa desastroso idêntico ao do Chile só é possível num regime ditatorial e sanguinário, porque não seria sufragado nas urnas.

A declaração assombrosa de Paulo Guedes foi feita em 25 de novembro passado, e nada – absolutamente nada – aconteceu com este criminoso, autor de grave ameaça terrorista.

Pesquisas de opinião recém-publicadas foram interpretadas por vários analistas com uma lente desfocada. A rejeição do Bolsonaro, bastante valorizada nas análises, é um indicador importante, mas não o mais valioso para se apreender a realidade, como é o índice de apoio a ele na sociedade.

Segundo o Datafolha, o apoio a Bolsonaro se situa acima de 30%. O instituto encontrou 12% como “núcleo duro de entusiastas” e 22% do apoio formado por “entusiastas médios”. Com esse nível impressionante de adesão social, mesmo sendo inferior à sua alta taxa de rejeição, Bolsonaro é um dos principais competidores eleitorais contra Lula,  o PT e toda esquerda.

Ciente disso, Bolsonaro governa, fala e age com 2 objetivos principais: para [1] fidelizar o apoio desse contingente eleitoral formidável, e para [2] estigmatizar e demonizar o PT e a esquerda para, assim, angariar votos antipetistas junto ao chamado “centro” com um discurso histérico, infundindo medo e pânico anticomunista.

A situação política e institucional brasileira evoluiu para um estágio de deterioração democrática que ultrapassa a des-democratização; o Brasil está diante do avanço perigoso e contínuo rumo à fascistização.

O bolsonarismo não é só o clã sociopata, o extremismo de extrema-direita e suas monstruosas aberrações, mas é a forma que a restauração neoliberal assumiu no Brasil – que tem semelhança com o que acontece em outras partes do mundo.

Duas análises brilhantes – e perturbadoras no seu brilhantismo – oferecem um arsenal teórico que ajuda a entender esta complexa realidade com visão totalizante e abrangente.

Uma delas é do professor de ciência política da USP Bernardo Ricupero, Notas sobre o bonapartismo, o fascismo e o bolsonarismo [aqui], que se nutre de referências históricas clássicas sobre o fascismo, como as teses premonitórias de Karl Marx, Leon Trótsky e August Thalheimer para explicar o bolsonarismo como fenômeno totalitário em curso.

A outra análise, do professor de filosofia da UNICAMP e presidente do CEBRAP Marcos Nobre, Contagem Regressiva [aqui], percorre amplo trajeto da política nacional para responsavelmente cobrar do campo democrático brasileiro uma resposta urgente à catástrofe bolsonarista, antes que seja tarde demais.

Deter o bolsonarismo e barrar a tendência totalitária que está em curso no país se combina com o combate à barbárie ultraliberal e as políticas devastadoras que comprometerão o futuro do Brasil e do povo brasileiro pelas próximas décadas.

A luta pelo impeachment de Bolsonaro pelos notórios crimes de responsabilidade que ele e integrantes do seu governo cometem, deve entrar no radar de opções dos democratas para evitar que, assim como Mussolini na Itália e Hitler na Alemanha, Bolsonaro venha se tornar um ditador sanguinário reeleito “democraticamente”.

3 comentários em “Bolsonaro é uma via aberta para a ditadura fascista

  1. Eu sempre me pergunto porque já naquele dia em que Bolsonaro homenageou Brilhante Ustra, enquanto votava pelo empeachmant de Dilma, ele não foi cassado? Preso. Retirado da cena política. Isso nunca me coube na cabeça. Daí o monstro nasceu e continua cada dia maior, de forma que ninguém mais se anime a pará-lo!

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  2. É, Grande Escritor Jeferson Miola, é difícil viver sob ameaça de outra ditadura … fascista!
    A luta é grande e continua!
    Estou com a Sra. Almeri Espindola de Souza, que lembrou a homenagem do Bo so ao B.Ulstra já naquela época.
    Por favor, continue me enviando os seus maravilhosos artigos.
    Parabéns!

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